segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Sabemos que o filme e mais ainda a novela de televisão não equivalem ao
romance; que a fotografia não tem o mesmo prestígio ou valor social (nem o
mesmo valor mercadológico) que a pintura; que um recital de Beethoven é ainda considerado muito mais “cultural” do que uma roda de samba ou um show de rock. Mas existem hierarquizações mais sutis (e mais perversas) que atuam sobre nós com grande eficácia: não cogitamos, por exemplo, que um leitor de O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, corra o risco de se tornar racista, mas nos preocupamos séria e honestamente com o poder alienante que a televisão pode ter sobre o seu público. Isto sinaliza que, além da hierarquia das linguagens ou das formas de expressão culturais, introjetamos também uma hierarquização dos diferentes públicos ou esferas de recepção.


Eneida Leal Cunha no artigo A emergência da cultura e da crítica cultural. In: Cadernos de estudos
culturais

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