segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014



Escorre enquanto corremos. Talvez a imagem mais próxima que temos da chuva é quando estamos deitados na cama e vemos seu reflexo junto com um vento fino no poste da frente, ou na janela, plasmada de gotículas, uma fotografia que o sol guarda no outro dia.

Na exposição Lágrima de São Pedro do Vinícius S.A. ainda não vemos a chuva, mas podemos imaginar seu olho.  

A obra que tem uma beleza visual estonteante, trazendo uma atmosfera própria e mágica. Dezenas de lâmpadas incandescentes cortadas, penduradas e cheias de água. Líquido onde era luz, natureza e homem, necessidade e invenção da necessidade.

Os pingos estão parados, nos é que movimentamos dentro dele. Num universo particular, os “habitantes” desse espaço aumentam e diminuem de tamanho mergulhando seu reflexo em cada lágrima de vidro, como se fossemos imensuráveis como a sede.

Estamos presos em cada gota, encobertos pela beleza, mas ainda sim, com a boca seca, separados um dos outros, esperando os deuses. São Pedro chora, lamenta ser esta a salvação e para de chorar quando as lágrimas não chegam.

O líquido encapsulado, a vontade de guardar envolvida em um manto fino, quebrável como o homem.

A exposição da uma sensação de tempo parado, como se flutuássemos com as gotas que não molham a terra. O andar na exposição é diferente, mais lento, por nosso medo de tocar nas lâmpadas, por ser absorvido por esse painel móvel e por não saber o que fazer com isso. 

Afogaríamos em  beleza e fantasia mas o incomodo de uma canção de lamento encharca os pés de terra. O som da criança acompanha a exposição como um mantra resignado e esperançoso. Lágrimas como chuva parada, repetição da resistente pobreza, da abundancia do líquido que não vem.

Afinal o que é estático?A água em cada gota-lágrima evapora no sertão do ar condicionado carioca.


Fernanda Tatagiba

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