quinta-feira, 12 de junho de 2014

O signo vem marcado, em toda a sua laboriosa gestação, pelo escavamento do
corpo. O acento, que os Latinos chamavam anima vocis, coração da palavra e matéria prima do ritmo, é produzido por um mecanismo profundo que tem sede em movimentos abdominais do diafragma. Quando o signo consegue vir à luz, plenamente articulado e audível, já se travou, nos antros e labirintos do corpo, uma luta sinuosa do ar contra as paredes elásticas do diafragma, as esponjas dos pulmões, dos brônquios e bronquíolos, o tubo anelado e viloso da traquéia, as dobras retesadas da laringe (as cordas vocais), o orifício estreito da glote, a válvula do véu palatino que dá passagem às fossas nasais ou à boca, onde topará ainda com a massa móvel e víscida da língua e as fronteiras duras dos dentes ou brandas dos lábios. 


O som do signo guarda, na sua aérea e ondulante matéria, o calor e o sabor de uma viagem noturna pelos corredores do corpo. O percurso, feito de aberturas e aperturas, dá ao som final um proto-sentido, orgânico e latente, pronto a ser trabalhado pelo ser humano na sua busca de significar. O signo é a forma da expressão de que o som do corpo foi potência, estado virtual.


Alfredo Bosi - O Ser e o Tempo na Poesia 

Um comentário:

  1. hei Fernanda!

    Beleza de poemas. que bonito seu blog.

    Fazendo contato. Aparecendo por JF dê um toque neste aqui que encontrou você na fila de Dali ou nesta fila aqui!

    um beijo, Tarcísio.

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