segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Agradecimento

devo muito 
aos que não amo

o alívio de aceitar
que sejam mais próximos de outros

A alegria de não ser eu 
o lobo de suas ovelhas

A paz que tenho com eles
e a liberdade com eles,
isso o amor não pode dar
nem consegue tirar

Não espero por eles
andando da janela à porta
Paciente
quase como um relógio de sol,
entendo o que o amor não entende,
perdoo,
o que o amor nunca perdoaria

Do encontro à carta
não se passa uma eternidade,
mas apenas alguns dias ou semanas

As viagens com eles são sempre um sucesso
os concertos assistidos,
as catedrais visitadas,
as paisagens claras

E quando nos separam
sete colinas e rios
são sete colinas e rios
bem conhecidos dos mapas

(...)

Wislawa Szymborska

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