1- Depois do Primeiro Beijo (Bouguereau)
Dois
anjinhos nus sentados nas nuvens brancas. O anjo masculino abraça a anja com ímpeto e ternura. Ela, com o corpo recolhido e braço esquerdo insinua um gesto de afastamento do beijo, indicando que apesar da ação concluída, há um sentimento de recusa. Porém, ambiguamente, sua fisionomia mostra que ela recebe o beijo com um agrado contido.
A nuvem parece sólida
e concreta, o pano caído dá uma ideia de fluidez e instantaneidade, remetendo ao nosso olhar interferindo na ação, a visão humano que movimenta e dá atrito ao plano divino, o olhar do pecador que precisa de algo que se entrepõe ao desejo.
O pano que cai contrapõe a nuvem estática, nos fazendo perceber que não se trata do mesmo espaço terreno, e sim de um plano com outra atmosfera. O pano esta dividindo as duas figuras, como que
marcasse uma impossibilidade, sendo o único elemento “humano” da
imagem, com isso talvez seja a presença da lembrança do pecado original, não
dos anjos, mas talvez nossa que não poderíamos olhar dois anjinhos se beijando
sem a malícia concedida por Eva.
Os dois corpos tem uma expressão humana, mesmo de asas estão
sentados, e não "livres" voando, como poderia supor, estão presos na condição de observados, condenados pelo olhar.
A perna do anjo masculino
esta esticada, codificando quem é o autor da ação, e a anjinha esta sentada na
nuvem, em um plano acima, nos remetendo a idealização feminina. A nuvens
“sólida” nos lembra que os sentimentos, que parecem feito de nada, poeira
branca e passageira como as nuvens que vemos no céu pode ser concreto e real. O
recolhimento da representação feminina é esperado por se tratar de uma figura
angelical, nos trazendo a tradição religiosa e sua força pudica.
A separação do masculino e do feminino é marcada pelo pano que divide o quadro ao meio, assim como também pela asas da anja que lembra uma asa de borboleta nos lembrando ao plano terrestre, como se ela, mesmo em um plano superior em relação ao anjo, ela tem a marca "humana", não podendo ser vista como plena da divindade. Enquanto que o sexo do anjo é coberto involuntariamente pelo movimento do pano azul, na anja é ela que cobre ao cruzar as pernas, mostrando que esta é uma atitude intencional de se guardar, remetendo a noção de que caberia a mulher o sentimento de vergonha e assim, de contenção do desejo.
A partir dessa perspectiva, a anjinha que no primeiro momento pode ser vista como recatada e com isso mais inocente, com sua atitude medida contrasta com o impulso "primitivo" do beijo do anjo, que mesmo mais próximo do plano terreno, tem uma áurea mais infantil.
A separação do masculino e do feminino é marcada pelo pano que divide o quadro ao meio, assim como também pela asas da anja que lembra uma asa de borboleta nos lembrando ao plano terrestre, como se ela, mesmo em um plano superior em relação ao anjo, ela tem a marca "humana", não podendo ser vista como plena da divindade. Enquanto que o sexo do anjo é coberto involuntariamente pelo movimento do pano azul, na anja é ela que cobre ao cruzar as pernas, mostrando que esta é uma atitude intencional de se guardar, remetendo a noção de que caberia a mulher o sentimento de vergonha e assim, de contenção do desejo.
A partir dessa perspectiva, a anjinha que no primeiro momento pode ser vista como recatada e com isso mais inocente, com sua atitude medida contrasta com o impulso "primitivo" do beijo do anjo, que mesmo mais próximo do plano terreno, tem uma áurea mais infantil.
O quadro é predominantemente branco, destacando ao centro a imagem do beijo dos anjinhos, essa simplicidade de elementos reforça a ideia de suspensão do tempo e espaço, que por um lado impregna de eternidade a pintura, por outro, nos leva a uma imagem primária alegoricamente relacionada com o mito da criação cristã.
O quadro é o retrato da inocência perdida, uma nostalgia do impulso do primeiro encontro, da timidez frente ao outro.
O quadro é o retrato da inocência perdida, uma nostalgia do impulso do primeiro encontro, da timidez frente ao outro.
Fernanda Tatagiba
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